13:44 Prefeitura Municipal de Chácara                

     

Formação do Município

      O recobrimento vegetal da região da Zona da Mata Mineira se caracterizava por um extenso manto florestal compacto e homogêneo, como um verdadeiro obstáculo à penetração humana. Além disso, a cadeia de montanhas composta por serras, em particular o maciço da Mantiqueira e a Serra do Mar dificultou bastante o acesso dos colonizadores. Esta região era considerada terras proibidas pelo Governo Português, em função da mineração do ouro, para se evitar o contrabando do mesmo. Já no início do século XVIII, Garcia Rodrigues Pais se propôs a abrir um caminho, mais curto que proporcionasse “...uma linha mais direta de comunicações com a cidade de São Sebastião, a verdadeira capital do Sul.” Este caminho favoreceria as viagens do governador da Repartição do Sul e do Rio de Janeiro, Arthur de Sá e Menezes “...em suas viagens para São Paulo que incluiam visitas às minas de ouro, e para a região aurífera na ‘Borda do Campo’, em Minas Gerais”. Outras denominações recebeu o caminho em comparação com outros, “Caminho do Garcia, Caminho do Couto, Caminho do Pilar ou Caminho Novo do Rio de Janeiro para as minas.” Assim, o Caminho Novo “tinha início no cais da Praia dos Mineiros (Praça XV), alcançando por mar o Rio Pilar no fundo da Baía de Guanabara. A partir daí seguia na forma de uma picada, que vencia a Serra do Mar em direção a Paty do Alferes. A construção do caminho iniciou-se a partir das minas, mais precisamente nas proximidades de Barbacena onde reuniam-se os caminhos do Rio das Mortes, do Rio das Velhas, e do Rio Doce. Começando daí, ‘venceu a Mantiqueira, pela garganta de João Ayres, procurou o Paraibuna, seguiu até sua barra no Paraíba e pela Serra dos Órgãos chegou à baía do Rio, passando em Cabaru, Alferes (Paty do Alferes) ou Roças do Marcos da Costa, Couto e Pilar (Campos Elísios, distrito de Duque de Caxias/RJ)”. O contrato para a abertura do caminho foi assinado em 22 de outubro de 1698. Tal caminho recebeu a denominação de ‘Caminho Novo’, iniciado por Garcia Pais que, para a conclusão dos trabalhos teve a ajuda do Coronel Domingos Rodrigues da Fonseca, “...ao custo de grandes cabedaes”. Os trabalhos de construção tiveram a duração de quatro anos, sendo que em 1709, o Rei agradece a Rodrigues Pais pelos serviços prestados.

      No itinerário desta via de penetração, foram estabelecidos pontos de controle através de registros, como o do Paraibuna e o de Mathias Barbosa. Com a construção do caminho, o governador da Província dividiu a Capitania em quatro grandes comarcas, a primeira delas a de Vila Rica de Ouro Preto, a segunda a de Vila Real de Sabará, a terceira a de Vila do Príncipe do Serro e quarta a de São José do Rio das Mortes. A sede desta última foi definida na Vila de São João del Rei do Rio das Mortes. O vasto território abrangia “...desde Paraopeba e Congonhas, rumo ao sul, até o legendário Paraibuna e a serra da Mantiqueira, compreendendo a região onde mais tarde surgiria a Vila de Juiz de Fora.” A abertura desta via de circulação tornou necessária também a identificação de trechos e localidades, com denominações como Mata do Rio, Zona da Mata, Mato Dentro, Mata do Rio Doce, Mata do Peçanha, Mata do Mucuri, dentre outras.

      Ainda em 1749, a descrição do ouvidor Caetano da Costa Matoso, relata parte do percurso do Caminho Novo, “...vim continuando todo este caminho sempre entre matos, como até aqui, sempre subindo e descendo mais e menos, com pouca ou nenhuma diferença, e sempre com cada vez piores caminhos passei (...) correndo junto e à vista sempre do rio Paraibuna que aqui corria. Aí passei a rocinha de Matias Barbosa, sempre seguindo o mesmo rio em mais légua, chegando pelas onze e meia, junto a ele, a um sítio a que chamam Matias Barbosa, que com descanso meu até a manhã seguinte. (...) Aqui se pesam todas as cargas de fazenda, o que antes faziam no registro da Borda do Campo.” Outro relato acerca deste itinerário vem de Auguste Saint Hilaire, botânico francês, sobre as condições do Caminho Novo que destaca “...como sua única vantagem fosse economizar alguns dias de viagem, e os condutores de tropas não se mostrassem dispostos a enfrentar uma estrada que não lhes oferecia nenhuma comodidade, as autoridades resolveram conceder uma diminuição no preço da postagem paga por homens e animais que atravessam o Paraíba no posto de registro do Caminho de Rio Preto.” Vale dizer ainda que na ocupação da Zona da Mata os tropeiros desempenharam um papel preponderante “...no lombo das tropas, a Mata encaminha o açúcar, o fumo, o toucinho e o milho. Recebe de volta o sal de Magé (...) Ademais, havia o algodão em tecido, o chá, bugingangas e mercadorias do Rio e Campos”.

      O município de Chácara, distrito de Juiz de Fora até o ano de 1962, quando da sua emancipação, pela Lei nº 2.764 formou-se às margens deste Caminho Novo. Vale mencionar que a região de Juiz de Fora, a antiga Santo Antônio do Paraibuna foi desbravada por mestiços e mamelucos, assim, a “...penetração seguiu, de preferência, os caminhos naturais, os rios. Quando penetravam, por via terrestre, acompanhavam os cursos de água, embrenhavam-se, sertão adentro, seguindo veredas ou trilhas de índios e de gado, evitando as serras escarpadas, as matas virgens e espêssas, os brejos e alagados. De penetração, pois, de abertura e picadas e ‘caminhos’, surge o começar da história da região” Ainda em 1863, a localidade de Chácara, como distrito de Juiz de Fora teve a sua criação relacionada à doação de parte das terras pertencentes a D. Iria Maria da Silva para o patrimônio da igreja de São Sebastião. Foram cinco alqueires doados que geraram a localidade de São Sebastião de Chácara. O povoado possuía grande número de fazendas produtoras de café, que eram utilizadas para o estabelecimento de suas divisas. Foi elevado a categoria de distrito e freguesia em 30 de outubro de 1884, pela Lei Provincial nº 3.276, tendo os seus limites determinados em junho de 1886, assim, “... começam (os limites) na pedra da Babylonia, da fazenda Sant’ Anna, seguindo pelos pontos mais altos até a estrada velha que vae para Juiz de Fora, dividindo com o districto de Agua Limpa (atual Coronel Pacheco), desta, a fazenda dos Linhares fazenda da Floresta, da família Penido, dividindo com o districto da cidade de Juiz de Fora; seguindo a fazenda de São Fidelis, do dr. José Procopio Teixeira a dividir com o districto de Sarandy; seguindo até a fazenda do Passo da Patria, do Coronel Custodio Augusto de Rezende, dividindo ainda com o districto de Sarandy; seguindo a fazenda Boa Vista, dos Duque, a dividir com o districto de Bicas; seguindo à fazenda do Bom Retiro, de diversos proprietários, a dividir com o districto de Santa Barbara, de São João Nepomuceno, seguindo pelos pontos mais altos até o ponto de partida.” A região de Chácara foi uma das últimas a ser explorada pela cultura do café, “...pois julgavam-se suas terras não muito propícias a essa lavoura e a boa adaptabilidade só mais tarde se verificou.”

      As ocupações urbanas e rurais na atualidade tiveram a sua origem pela fragmentação do espaço das grandes propriedades rurais. Assim, as extensas propriedades pertencentes às tradicionais famílias como Paula, Delgado, Duque, Baião, (do Barão de Catas Altas), Sales, dentre outras, foram “...subdivididas em mais de uma centena de pequenos e médios sítios, geridos diretamente por seus donos, que neles residem.” No centro urbano, aglutinou-se um conjunto urbano homogêneo, ainda nos anos 20 e 30, com edificações em linguagem colonial, acrescidas de outras linhagens como o eclético e o art deco. Este conjunto teve os seus horizontes ampliados, tendo entretanto preservado a sua característica concentrada até a atualidade. Com os novos granjeamentos e loteamentos, a tendência é a “pulverização” pelo território de espaços urbanos. Nas áreas rurais, antigas fazendas foram substituídas por novas edificações em um processo de sucateamento e esquecimento do modo de vida tradicional. A lembrança de importantes propriedades como a Fazenda Boa Vista, a sudeste do território, “...uma das mais antigas do município, (que) teve a sua origem com Antônio José Duque, cognominado o Velho Duque, passando depois para seu filho João que, mais tarde, transferiu sua residência para Piraúba, deixando a fazenda em mãos de seus irmãos Francisco, José, Manoel, Hermógenes, Vicente, Augusto e Antônio.” A fazenda foi subdividida posteriormente em Bananal e Ponte de Pedra (Fazenda Santa Rosa), com acesso por estrada municipal. Vale mencionar que dentre as gerações à frente destas propriedades,Maria Manoela contraiu matrimônio com Miguel José Mansur, empresário e proprietário de extensa frota de empresa rodoviária. A Fazenda Santa Rosa que já teve expressiva produção de café, atualmente voltada para a pecuária de leite, nos remete ao ano de 1934, pertencente a Hitler Cândido de Oliveira. Ali o processo de beneficiamento do café ainda permanece na memória, “...tinha o despolpador de café e o lavador que é a bica que passava a terra... o café sobe e a terra desce; do lavador voltava para o despolpador; depois de colhido vai direto para o despolpador (um cômodo com depósito, varandão com maquinário, em frente ao terreiro de secar, este em laje de pedra); aí vai para a tulha e da tulha, quando ele tá sequinho, vai para a máquina de beneficiar o café; o café saía dali limpinho e era ensacado para levar para a cidade... tinha o relógio que era para medir a voltagem da luz gerada na usina geradora de corrente contínua no dínamo... com o tempo ficou difícil porque a água minguou.” Outra importante propriedade, a Fazenda Bom Retiro, posteriormente desmembrada em Galinhas, Bom Retiro II e Jacaré, dentre outras. Ainda se colocam outras propriedades rurais também desmembradas, como a Fazenda Cachoeira Alta, a Fazenda São José dos Cágados, a Fazenda Campo Belo, a Fazenda Santa Ambrosina, a Fazenda Sossego, a Fazenda Marmelo, a Fazenda São Fidélis, esta última como “...uma das grandes sesmarias de então, provavelmente a do Barão de Juiz de Fora, (...) contígua à Fortaleza. A fazenda São Fidélis foi transformada em Hotel Fazenda e hoje foi construído o Centro de Evangelização Comunidade Resgate. Outras propriedades podem ser listadas como a Fazenda Passo da Pátria, a Fazenda Engenho Velho e a Fazenda Durandet, sendo que esta última envolve indústria de laticínios.

      A efetivação de um sistema viário e de transportes na região, através da construção da Estrada União e Indústria ainda no século XIX, ligando através de percurso rodoviário Juiz de Fora e os centros urbanos vizinhos ao Rio de Janeiro contribuiu para o desenvolvimento do município. A estrada, que remonta a uma concessão feita em 7 de agosto de 1852, estava vinculada às ações de Mariano Procópio, à frente da Companhia União e Indústria. Trata-se do Comendador Mariano Procópio Ferreira Lage, diretor da Estrada de Ferro Dom Pedro II nos anos 1870. Inaugurada em 23 de junho de 1861, esta estrada de rodagem era, “...contemporânea às primeiras medidas de modernização da vida econômica brasileira, numa época, em que a ferrovia ainda mostrava-se como um sistema de transporte a ser implantado a médio prazo.” Além da Estrada de Rodagem, a ferrovia constituia um importante eixo de comunicação, com os seus portais de entrada compostos por estações de passageiros e cargas. Grande era o interesse dos cafeicultores e produtores rurais pelos itinerários ferroviários. Assim, a estação de Comendador Filgueiras a oeste do centro urbano possibilitava o acesso de cargas e passageiros a outras regiões do país. O ramal da Estrada de Ferro Leopoldina vinha da bifurcação em Furtado de Campos, ao norte, passando pelas estações de Rio Novo, Água Limpa (Coronel Pacheco), até atingir a estação de Comendador Filgueiras e seguir para Juiz de Fora. Em Juiz de Fora o acesso à Estrada de Ferro Dom Pedro II, posteriormente Estrada de Ferro Central do Brasil que se configurava como uma verdadeira espinha dorsal de toda a rede ferroviária brasileira, sendo que o primeiro trecho desta ferrovia nos remete ao ano de 1858, desde a Estação Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, até Japeri, tendo alcançado a cidade de Barra do Piraí em 1864. O percurso da linha prosseguiria para o Estado de Minas Gerais, alcançando a cidade de Juiz de Fora em 1875. Neste percurso os trilhos recortariam os fundos de vale do Estado, conectando as cidades da região através de ramais e atingindo a velha capital, Ouro Preto, desbordando pela região onde se instalaria a nova capital Belo Horizonte, até chegar à cidade de Pirapora, às margens do Rio São Francisco, em 1910.

      O processo de fragmentação das fazendas foi contínuo, por décadas e décadas, tendo gerado inúmeras propriedades. As antigas sedes tiveram destinos diferenciados, tendo permanecido algumas delas, como a própria Santa Rosa. Renovações e demolições provocaram a perda de importantes referenciais da memória da ocupação no meio rural. As extensas propriedades deram lugar a pequenos sítios e chácaras, ou mesmo loteamentos residenciais. Nos dias de hoje, loteamentos como o Colorado avançam sobre as áreas rurais. Neste processo, muito se perdeu também em termos do modo de vida rural, com o esvaziamento populacional progressivo das zonas rurais. Entretanto, a agricultura ainda permanece como a principal atividade econômica, com destaque para a produção de laranja e mandioca. Além disso, destacam-se a pecuária, principalmente na criação de galináceos e bovinos, e a fabricação de produtos alimentícios e bebidas. Contribui também de maneira expressiva para o PIB do município o setor Terciário através da prestação de serviços. O município apresenta também reservas minerais de Alumínio (Bauxita).

      Na atualidade, Chácara guarda ainda muitas referências deste passado próximo, edificações isoladas em áreas rurais, antigas sedes de fazendas; um núcleo urbano composto por conjuntos urbanos, nos quais tempos diferenciados marcam o cenário. Além disso, referências naturais se destacam como cachoeiras, montes e vales arborizados e cultura popular presente no dia-a-dia do município. Muitas transformações encontram-se em curso, como novos loteamentos, chácaras, indústrias, hotéis, escolas, dentre outros. O futuro se apresenta...